Frase da Semana

"A verdadeira perfeição do homem reside não no que o homem tem, mas no que o homem é."
Oscar Wilde

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

A Crítica - Casa Glass



Uma cidade assustadora. Os vampiros dominantes e os humanos precisando de proteção ou podem acabar como petisco. Esta é Morganville. Uma cidade com aparência tranquila, mas que de noite, se transforma num lugar terrível.
Caire Danvers é uma garota superdotada, que aos 16 anos (quase 17, conforme ela insiste) ingressa na faculdade. Seus pais proibiram que ela fosse para longe, estudar em grandes universidades como Yale ou MIT, logo ela acaba em Morganville, numa universidade pequena, que se tornará o início de seus pesadelos.
No começo do livro, já encontramos a protagonista numa situação difícil, as roupas jogadas pelo cano, brigando com Mônica (uma bonitona rainha do bullying) e moniquetes, como ela apelida o séquito desprezível da moça.
Consequência: Claire apanha e se vê obrigada a fugir do alojamento estudantil e buscar um outro lugar para morar, na cidade. Ela consegue uma vaga na Casa Glass (Editora Underworld, 286 páginas), onde conhecerá Eve, Shane e Michael, seus novos amigos um tanto quanto estranhos.
Rachel Caine nos conduz pela história com um talento indiscutível. Ela traduz emoções e lugares no papel muito bem, e acabamos devorando o livro em pouco tempo, tal a fluidez de sua escrita.
No entanto a trama é falha e fraca.
Os pais superprotetores de Claire nunca tinham visitado Morganville antes? Deixariam a filha de 16 anos morar em um lugar desconhecido, por mais perto que fosse?
Claire, a garota superdotada, com uma inteligência acima da média, frequentemente tem atitudes estúpidas. Que tipo de superdotado acredita ser capaz de criar uma réplica perfeita de um livro ancião em casa e passar pela aprovação de vampiros? Talvez uma versão Chuck Norris livreiro conseguiria, mas qualquer pessoa racional percebe ser uma tarefa impossível, daquelas que passa pela cabeça num momento de desespero, mas é instantaneamente substituída por outra melhor.
Que tipo de pessoa vê sua vida ameaçada seriamente e decide ficar e correr o risco? Depois isto é corrigido, pois vão aparecendo impecilhos morais para ela fugir, no entanto, no início, não há motivo suficientemente forte que a prenda, exceto um suposto orgulho, muito pouco para alguém arriscar a pele.
Quais laboratórios de química exibem galões de Nitrogênio líquido disponíveis vazios, leves e portáteis?
Uma série de atitudes incongruentes nos desanimam durante a leitura, o que torna toda a trama artificial. Apesar de ser bem escrito, não povoa nosso imaginário, fica apenas como algo do livro, sem sair das páginas e ganhar vida, como uma boa trama, mesmo de ficção faz.
Os outros personagens me cativaram um pouco mais. Eve é uma gótica gentil,  real, do tipo que acreditamos que possa existir. Shane é engraçado, doce e bonito, daqueles garotos que torcemos os lábios para as atitudes idiotas, mas damos sorrisos de encanto quando eles viram as costas.
E Michael, cheio de mistérios, com uma história pessoal interessante relacionada a Casa Glass, nos deixa curiosos por sua história.
Mesmo assim, seus atos nos decepcionam frequentemente. Mas pelo menos eles não são superdotados.
Gostei dos vampiros. Maldosos, sanguessugas, unicamente interessados no próprio benefício, sem problemas morais em quebrar pescoços humanos. Algumas dúvidas sobre a natureza deles, hábitos e limitações ficaram, mas devem ser respondidas nas continuações.
O final foi abrupto. Fiquei curiosa para a continuação, saber quem são os novos personagens que surgem e como tudo continua.
Recomendo o livro para fãs de YA, que queiram se distrair, mas sem pensar excessivamente. Quanto mais refletimos sobre os detalhes, mais decepcionados ficamos com a obra. Entretanto, a escrita deliciosa da autora e os personagens secundários muito bem trabalhados, nos fazem continuar a leitura e soltar um sorriso ao final.
Um parabéns a editora, pela excelente diagramação do livro, capa linda e folhas amareladas que nos garantem uma leitura agradável. Não achei a tradução ruim, como muitos falaram,  e não encontrei erros de revisão que incomodassem.  Excelente trabalho! Também agradeço pela oportunidade do booktour. 

segunda-feira, 30 de maio de 2011

A escritora


Fita de cetim

Viena, Aústria
A mulher seguia através das vielas de pedra, as construções imponentes cobertas por  ouro. A cidade de Macchu Picchu resplandecia no auge da sua beleza, mas a moça não tinha tempo para avaliar a arquitetura, precisava encontrá-lo. Ouvia os passos secos ecoando, rápidos e curtos. Ao contornar uma esquina, foi de encontro com uma construção arredondada: O templo do Sol. Passou pelas enormes portas de madeira, solenes, guardando o recinto sagrado, e deparou-se com o pequeno garoto, cabelos pretos cortados retos, os olhos amendoados.
- É tempo de retornar. – Ele disse.
Odessa acordou sobressaltada, o suor deixando seu cabelo emplastrado ao pescoço. Não era a primeira vez que sonhava com aquele lugar, mas nunca se recordava. Agora as palavras do garoto martelavam em sua memória. Palavras em Quechua.

Callao - Peru
- Mas que formosura! – Odessa empinou o corpo ao ouvir os elogios vindos dos homens das docas. Ao virar o rosto, pronta para dar uma resposta atravessada, percebeu que as palavras não eram dirigidas a ela. Os olhos de todos os trabalhadores estavam voltados para o navio que acabara de chegar, transporte de Odessa e de sua preciosa carga. Não era à toa. O metal da embarcação era brilhante, mesmo sob as nuvens acinzentadas que cobriam o porto de Callao. Tinha uma cor bronze, contrastando com o tom dourado que contornava as milhares de janelinhas redondas na lateral. A fumaça saindo pelas chaminés se esgotava aos poucos, dando foco à beleza exótica metálica, incomum na América do Sul, em 1865.
A mulher, antes pronta para reclamar, sentiu-se um pouco traída. Estava acostumada a ser notada pela sua beleza e, por mais que reclamasse, fazia parte de sua natureza aparecer. Vestia uma calça de sarja bege, metade coberta pela longa bota preta que subia até seu joelho. Uma camisa branca de mangas longas e decote profundo surgia por dentro do cinto e era coberta, em parte, por um colete de linho contendo diversos bolsos, onde costumava guardar seus apetrechos para pesquisa, tesouras, pinças e pincéis. Trazia no pescoço um lenço rosa amarrado, sua marca pessoal, e óculos de proteção na cabeça. Os cabelos negros caiam em um rabo-de-cavalo alto e os olhos azuis faiscavam. Após o breve instante de orgulho ferido, voltou a atenção para a carga sendo retirada do barco pelas imensas máquinas a vapor.
- Cuidado, o conteúdo destas caixas é delicado e caríssimo, senhores. – Ela falava o Quechua com os trabalhadores peruanos quase sem sotaque. Nunca entendeu aquilo mas, desde sua juventude na Aústria, dominava a língua, nunca ensinada pelos seus pais. Nasceu com aquela capacidade e não sabia o porquê. Respirou fundo e sentiu-se completa por estar naquele país, finalmente. Sonhos estranhos a motivaram a atravessar o oceano para buscar uma cidade perdida. E só pode voltar a dormir tranquilamente quando entrou no navio para a viagem, como se fosse obrigada a seguir este rumo. Não se lembrava quando os primeiros sonhos com as ruínas peruanas chegaram, mas parecia que eles a acompanharam durante toda a vida, fragmentos de uma lembrança que nunca viveu.
Dezenas de caixas de madeira enormes foram descarregadas da enbarcação. A mulher coordenava a operação pessoalmente. Sua viagem dependia daquilo. A quantia de dinheiro investido naquela expedição fora exorbitante, mas se obtivesse sucesso, o retorno seria maior, fora o prestígio. Odessa adorava prestígio.
Depois de uma semana de trabalho, a montagem estava completa. Muitos dos trabalhadores locais não compreenderam o que aquela maravilha da engenharia representava até as caldeiras serem acesas e o vapor quente começar a ser jogado no interior dos balões ligados por cabos a enorme cabine. A “Estrela Polar”consistia em uma máquina voadora gigantesca, um desafio às leis da física, levada as alturas por enormes balões de ar quente e direcionadas por enormes pás e bobinas que forneciam o empuxo necessário para manter o percurso.
Os objetos pessoais de Odessa foram levados para dentro. Para uma mulher, ela era sucinta, com poucas roupas, mas com muitos livros e mapas.
- Você vai viajar nisso sozinha, senhora? – Um garotinho, que batia apenas no seu joelho, a cutucou. O olhar curioso esquadrinhava a mulher de cima a baixo. Uma voz alegre, estranhamente familiar.
- Eu vou sim. Você duvida? – Ela abaixou um pouco e olhou dentro dos olhos amendoados do moleque.
- Não, senhora, não duvido. É que é tão grande esse… esse… esse negócio. – A verdade era que Huyana nunca havia visto uma construção como aquela.
- Estrela Polar, esse é o nome. Vai voar até o céu. – Ela apontou para o alto.
- Eu posso ir junto, senhora?
- Infelizmente não pode, eu vou numa missão perigosa. Não é lugar para crianças, sinto muito. – Odessa passou a mão pelo cabelo macio e pesado e foi em direção ao dirigível. Ao olhar para trás, o garoto não estava mais lá.
Entrou na cabine gigante da nave. Uma grande sala central comportava uma mesa redonda, onde espalhou seus mapas e bússolas, iluminada por uma série de lâmpadas. A energia elétrica era fornecida por inúmeros cataventos posicionados estrategicamente para fora, durante o voo. Os homens estavam rindo quando ela fechou a porta, todos duvidavam que uma moça delicada poderia controlar um aparelho de tal magnitude. Isso porque não conheciam Estrela Polar. Aquela aeronave tinha, praticamente, vida própria e Odessa não duvidava que um dia ela sairia voando sozinha. Bastava ajustar as coordenadas de voo e inserir o mapa em uma enorme lingueta: o trajeto era traçado imediatamente e a viagem prosseguia sem o auxílio de um piloto. Isso seria fácil se ela tivesse coordenadas exatas, mas não tinha. Buscava uma cidade perdida, uma dúvida entre os pesquisadores. Precisa ter paciência comigo – Ela falou enquanto acariciava o painel de comando.  Olhou novamente os mapas. Estava no porto de Callao e precisava rumar ao Sul, atravessas as cordilheiras dos Andes. Acreditava que encontraria seu destino lá, não muito longe de  Cusco.
Traçou uma rota estimada e posicionou o mapa no compartimento. Começou a ouvir o som de múltiplas manivelas rodando, Estrela Polar pensava. Após alguns segundos, uma luz vermelha se acendeu e o som das caldeiras se fez mais forte. O gás quente foi impulsionado com mais força. Voava.
***
O movimento da aeronave era leve, como o oscilar tranquilo de uma rede de descanso. Odessa preparou uma comida e posicionou-se novamente frente aos mapas, quando ouviu:
- Estou com fome, senhora. – O mesmo menino do porto estava parado ao seu lado.
A mulher pulou da cadeira, assustada. – Garoto, o que você está fazendo aqui? – perguntou num sobressalto. Depois passou a gritar, nervosa: - Você está louco? – O garoto apenas abaixou a cabeça, envergonhado.
- Desculpe, senhora. Só queria lhe fazer companhia e … voar. – O brilho no olhar fez Odessa esquecer a raiva. Ela lembrou de si mesma na infância, também se esconderia por aquele motivo.
- Como é seu nome?
- Huayna, senhora.
- Bem, Huayna, você precisa se comportar, promete?
O garoto apenas acenou com a cabeça e estendeu a mão num sinal de acordo. Quando Odessa tocou o garoto no cumprimento, assustou-se. Com a face lívida recolheu o braço rapidamente.
- O que foi, senhora? Fiz algo errado?
- Não foi nada. – Sua voz era fraca.
Odessa se afastou, pensativa. Estranhou o toque do garoto por ser igual ao seu: uma pele completamente lisa, como se estivesse coberta com uma luva do mais fino cetim. Nunca conhecera alguém igual a ela, nunca imaginara reconhecer no garotinho um semelhante. Buscara a explicação para sua peculiaridade a vida toda, mas nenhum médico tinha uma justificativa para o fato. Diziam ser algo constitucional. Sua pele era daquele jeito e ponto, nunca vista antes. Até aquele momento.
***
Algumas horas haviam passado e a tranquilidade foi substituida por nuvens negras. As lâmpadas dentro do dirigível começaram a piscar freneticamente, tal a velocidade que as pás dos cataventos alcançaram. Huayna não saia de perto de Odessa, assustado com a escuridão externa. Vista de fora, Estrela Polar lembrava um pequeno barco sendo engolido por ondas revoltas, transmutadas em forma de uma tempestado assustadora. Trovões provocavam clarões intermitentes, um brilho ensurdecedor.
Odessa disfarçava, tentando não desesperar o menino, mas por dentro estava perdida. Aos trancos, tentava manter-se de pé na cabine de comando, com diversas luzinhas de origem desconhecida piscando. Pegou uma série de papeis, as supostas instruções de funcionamento da aeronave, apenas para perceber que devia ter estudado aquilo antes. Largou a papelada no chão e tentou enxergar algo através das nuvens, mas era praticamente impossível. A única alternativa seria tentar pousar.
Pensou em todas as lições recebidas – e ignoradas - na Igreja, durante a sua infância, e torceu para que existisse um Deus. Começou a baixar a Estrela Polar lentamente, lutando contra as trepidações. O veículo reclamava e o ranger das engrenagens lembrava um choro de sofrimento. As nuvens começaram a rarear, permitindo uma visão nem um pouco agradável. Passava por dentro da Cordilheira dos Andes. Fez um movimento brusco, para desviar das montanhas, lançando Huyana longe. Algumas pás foram arrancadas pelas rochas que passavam rentes a aeronave. Conseguiu passar o perigo iminente, mas perdeu o controle, sendo lançada a esmo no céu. Temeu que aquele fosse seu último instante de vida e, ao olhar para o lado, sofreu com o jeito medroso do garoto. Ele ainda tinha muito o que viver. Apertou todos os botões, chamou o menino para perto de si e o abraçou. Numa oração silenciosa, esperaram que Estrela Polar os salvasse.
Rodopiavam e caiam no céu, até que os botões passaram a brilhar num padrão distinto e os engasgos do motor mostraram um último esforço. A aeronave, milagrosamente, tornou-se mais estável, mas já viam o chão. Bateram com força e tudo se apagou.
***
Aos poucos, a sala de comando voltava ao foco. A cabeça de Odessa latejava e ela sentiu o cheiro metálico do sangue que secou em seu rosto. Estrela Polar estava parcialmente destruida, a beleza das lâmpadas do painel transformou-se num caos de cacos de vidro. Cuidadosamente, levantou-se, procurando em volta pelo garoto.
- Huayna, onde você está? Huayna? - Ia aumentando o tom de voz, até virar um grito angustiado. Onde estava o garoto? Revirou os escombros hesitante. A cada mobília afastada, temia encontrar o corpo de seu novo protegido, mas não o encontrou. Arrastou-se como pode para fora da aeronave, passando pela porta estenosada pelo impacto.
 - Macchu Picchu. – Para surpresa da mulher, a aeronave havia caído na praça principal de uma ruína inca. O nome do lugar saiu espontaneamente de sua boca, um impulso incontrolável. Um arrepio percorreu sua coluna e ela teve certeza que conhecia aquele lugar. Uma energia subia por suas pernas, vinda das pedras que revestiam pedaços do chão. A Natureza ganhava em alguns pontos, a grama brotando entre as paredes parcialmente destruídas e lhamas pastando onde um dia andou uma nação. Por um acaso do destino, acabara caindo no objetivo da sua missão, a cidade inca perdida, exuberante, mesmo devastada pelo tempo. Entretanto, apenas uma coisa veia a sua memória: o seu último sonho. Mais uma vez entre as ruínas. Mais uma vez o procurando: Huayna.
Começou a correr, contornava as esquinas e percorria uma rota definida. Não sabia explicar como, mas conhecia o caminho, sabia para onde partir.
- Templo do Sol. – Estacou frente a uma construção arredondada, cravada sobre a pedra bruta. Mais uma vez as lembranças. Viu a enorme passagem e sabia que., um dia, enormes portas de madeira guardaram aquele lugar. Avançou, o som de seus passos espantou aves que repousavam naquele local. Ao entrar, o garoto estava de pé, voltado para a parede.
- Huayna! – Ela chamou. O menino virou-se, mas sua expressão havia mudado. O rosto doce e curioso substituído por um olhar duro.
- É tempo de retornar. – As palavras soaram como um eco do passado. Odessa andou na direção do garoto, que a evitou e saiu correndo do templo.
Sem pensar duas vezes, começou a seguí-lo. Via seus cabelos cortados retos oscilando no vento. Ouvia os passos secos ecoando, rápidos e curtos. Tudo parecia estranhamente conhecido. Juntos, os dois percorreram as ruas da cidade e iniciaram uma subida pelas pedras. A noite dificultava a perseguição, mas ela parecia saber para onde iam, guiando-se de maneira espontânea.
Chegaram, finalmente, a um grande bloco de pedra esculpido, completamente liso. – Intiwatana – Odessa sabia que local era aquele, mágico. O menino lançou um sorriso e afastou-se da pedra. A moça aproximou-se e viu surgir sob os raios prateados da lua,  a imagem de uma mão, esculpida perfeitamente. – Mas o que é isso?
- É para você, Odessa. – Huayna apontou a marca.
Prendendo a respiração, a moça posicionou sua própria mão sobre a marca, com um encaixe perfeito. A rocha começou a sofrer um leve tremor e afastou-se para o lado, instantaneamente, revelando uma passagem secreta.
O garoto entrou e Odessa o seguiu. Uma escada cravada na pedra descia desembocando em um longo corredor. As paredes brilhavam, devido a escrituras numa língua familiar que emitiam um brilho prateado.
Uma luz brilhava no fim do corredor e tornava-se mais forte a cada passo. Huayna correu em direção a ela, como se voltasse finalmente para casa, sumindo em meio ao clarão. – Mas o que é isso? – Odessa não entendia mais nada. Entorpecida pelos acontecimentos, ainda tonta pela queda do dirigível, continuou. Até ver um perfil humano delineado na luz. Um lindo homem de cabelos negros caídos pelos ombros, olhos da mesma cor. A pele amendoada, completamente lisa, cobria os músculos definidos do corpo, escondido por uma saia ocre. O sorriso branco era sincero e convidativo.
- Seja muito bem-vinda, irmã. – A voz era grave e intensa. Falava quechua, a língua ancestral do povo andino.
- Como assim? Quem… Quem é você? – As lágrimas desciam em filetes grossos pelo rosto da jovem.
- Eu sou parte de um povo, o seu povo. Somos os habitantes de Macchu Picchu, os construtores desta cidade sagrada. Há mais de duzentos anos voltamos para nosso lar, conectados ao nosso passado por este portal. Os poucos de nós que se perderam durante a fuga, morreram. Foram obrigados a passar vidas e vidas em um corpo humano. Como você, minha irmã.
- Os .. sonhos… a língua. – Odessa não conseguia ordenar as palavras.
- Sim, suas lembranças, seu conhecimento do Quechua, tudo isto prova que você é uma de nós. É momento de você retornar. Venha. – O inca estendeu uma mão, com o olhar alegre. Depois de alguns instantes de hesitação, a moça cedeu ao toque, liso como o seu - uma pétala de flor, uma fita de cetim. A porta fechou-se sem barulho e o corredor voltou a ficar vazio. Odessa e o Inca partiram, para onde Huayna já os esperava.
Os destroços da Estrela Polar permaneceram solitários na praça. Uma prova silenciosa de que aquela expedição fantástica um dia aconteceu.


quinta-feira, 28 de abril de 2011

Lançamento Insanas, Cursed City e Rei Rato


Olá, pessoal!
Já está marcado o lançamento do Insanas, Cursed City e Rei Rato, uma parceria das editoras Estronho e Tarja Editorial.
Quem for fantasiado de acordo com o tema dos livros, ganhará 10% de desconto na compra das obras e a melhor fantasia ganhará 40% de desconto nos próximos lançamentos.
Como vocês sabem, eu sou uma das autoras do Insanas e estarei lá esperando para autografar o livro de vocês!
Quero ver todo mundo lá!
Beijos,
Natália

domingo, 24 de abril de 2011

Nova capa Insanas

Olá, pessoal!
Precisei fazer esse post para colocar a nova capa da antologia Insanas da editora Estronho, da qual eu participo. A capa ficou simplesmente perfeita. Conseguiu aliar beleza com medo. 
Mais uma vez a editora está de parabéns, estou orgulhosa por fazer parte dessa antologia!


Capa Insanas


No site da editora, vocês podem conferir marcadores e bottons oficiais, além da biografia das autoras participantes. Confiram!






sábado, 23 de abril de 2011

Quais livros mudaram suas vidas?

Homenagem ao dia do Livro.

Os livros. Para alguns, objetos sem importância. Para mim, posso dizer que são quase como itens mágicos dos jogos de RPG, capazes de mudar minha vida e aumentar meus atributos. Tenho livros queridos para cada idade, experiência, estudo, enfim, acho que tudo pode ser marcado por uma leitura, seja ela de ficção ou técnica.
Em homenagem a este dia, coloco uma lista dos livros que me modificaram.

Na infância:
O primeiro livro que eu li foi o Pequeno Príncipe. Uma obra com figuras tão singelas, que me marcou com o desenho da ovelha dentro da caixa. A caixa com buraquinhos! Nunca vou esquecer. É daqueles livros que lemos em outras épocas da vida, cada hora despertando um sentimento diferente e uma reflexão nova.
Depois disso, lembro de ter ganhado uma coleção de histórias Disney para as estações do ano. Os contos de primavera Disney eram os meus preferidos. Li aquele livro até as folhas começarem a soltar. A armadilha amarela, uma história com o pato Donald foi a minha preferida.
Reinações de Narizinho me chocou. Quando vi a Tia Nastasia fritando o peixinho para comer, aff. Achei aquilo o fim.
Depois dele, o próximo a me marcar foi Tom Sawyer. Nunca vou esquecer da menina que não tinha rolinhos de sujeira no pescoço quando passava os dedos. São estranhos os detalhes que ficam guardados, não?

Na adolescência:
Tive uma fase poética. Adorava ler e escrever poesias cheias de amor e sofrimento. Os sonetos de Vinícius de Moraes e um livro de poesias de Camões sempre me acompanhavam. 
Depois, induzida pela escola, entrei na fase dos clássicos. Eu adorava! A professora indicava um e eu buscava outros o mesmo autor. Me marcaram, especialmente, O primo Basílio, Memórias Póstumas de Brás Cubas e Primeiras Estórias. Eu li A terceira margem do Rio pelo menos quatro vezes seguidas. Aquele conto me tomou de uma maneira inesquecível. A missa do Galo também, é outro conto incrível.
FOi na adolescência que comecei a ler Harry Potter, que me acompanha até hoje. E O Senhor dos Anéis, acho que até hoje nunca chorei tanto no final de um livro.
Depois, quando entrei na faculdade, conheci Somerset Maugham. Nem tenho palavras! O fio da navalha, Servidão Humana e o Véu Pintado são perfeitos. 

Adulta:
Comecei a ler mais contos e ficção científica. Especiais: Edgar A. Poe, com contos de terror. Admirável mundo novo, abriu minha cabeça de uma maneira fabulosa e 1984. Nem sei o que falar desse último livro, de tão especial.
O retrato de Dorian Grey também ficou gravado, foi bom para refletir sobre os atos humanos e consequências. 
O macaco nu, uma visão científica do desenvolvimento humano e de seus hábitos, recomendo muito!
A alma humana sob o socialismo e Cândido foram meus primeiros passos nos livros filosóficos. É algo que eu preciso ler mais.  
Li uma série de livros que gostei muito, mas não foram suficientes para me marcar. Nesse último mês, li Onde habitam os dragões, que foi especial, por tudo que evoca. Estou lendo O poder do mito que me modifica a cada página e Guerra dos Tronos, outro livro que já percebi que entrará para a lista dos favoritos.

Profissionalmente: Biologia Molecular da Célula, do Alberts, foi um dos primeiros livros a me mostrar como o mundo microscópico é especial.


E vocês? Quais livros marcaram suas vidas? 
Eu não coloquei os autores da maioria dos livros, mas acredito que grande parte seja conhecido por vocês. 

Abraços!
Natália

sexta-feira, 22 de abril de 2011

Sexta-feira da Paixão

Hoje é sexta-feira santa ou sexta-feira da paixão. Para muitos, um dia de comer peixe, para outros apenas um feriado e principalmente um dia santo.
Por que um dia santo?
Segundo as crenças cristãs, na sexta-feira, Jesus foi crucificado. Recomenda-se que as pessoas não comam carne, ou até jejuem e que se privem de prazeres. Isto para lembrarmos da morte e sacrifício de Jesus. Mas, com o passar do tempo, este significado se perdeu e muitas pessoas ficam questionando se foi realmente na sexta-feira que Jesus morreu, duvidando da veracidade histórica. E eu pergunto: Para quê?
Não importa se Jesus morreu na quinta, na sexta ou na segunda. É apenas um símbolo, uma representação, um dia para despertar em nós uma mensagem.
Eu, particularmente, não sou católica, mas gosto de refletir sim neste dia, pois ele significa Sacrifício. Um homem que teve a capacidade de se sacrificar por nós. Isso não é incrível? Alguém estar disposto a sacrificar sua própria vida por outros e ainda pedir o perdão para seus assassinos. Eu não me importo, honestamente, se isso aconteceu ou não, pois a mensagem que carrega, transborda em amor e merece nossa atenção. Pararmos para rever nossos erros, quantas vezes julgamos, todas as vezes que somos incapazes de perdoar e ainda inventamos justificativas para tal.
Devemos olhar para esta história, com os olhos despidos de preconceitos, livres das amarras religiosas para percebermos que vai além. O sacríficio pelo próximo, a doação da própria vida e o perdão, vão além de qualquer religião, de qualquer época. São uma mensagem universal.
Não importa se você é religioso ou ateu, essa mensagem serve para todos, não importa se você encare ela real ou mítica, baste que a encare. Mas encarar algo assim não é fácil. Pois é encarar a si mesmo.

Então, eu peço aos leitores, que pensem um pouco neste dia. Reflitam sobre a morte e principalmente, sobre o amor. Porque a morte, como a própria Páscoa mostra, é efêmera. Mas o amor, este é eterno.

terça-feira, 12 de abril de 2011

A crítica - Onde habitam os dragões

Título: As crônicas do Imaginarium Geographica - Onde habitam os dragões
Autor: James A Owen
Páginas: 306
Editora:  Underworld
Nota: 5/5

É difícil traduzir o quanto este livro me tocou. O mais incrível foi que durante a maioria das suas páginas ele parecia uma aventura interessante, mas com algumas coisas já conhecidas. Mas, nos últimos capítulos, o autor nos surpreende de uma maneira tão incrível que, devo confessar, deixou os meus olhos cheios de lágrimas.
Essa resenha farei diferente, sem pontos positivos ou negativos, como vocês podem reparar eu dei a nota máxima para este livro, logo ele praticamente só teve coisas boas.

Onde habitam os dragões começa em Londres, na primeira guerra mundial. John, Jack e Charles acabam se envolvendo com um homem estranho: Bert, que diz que John é o guardião de um livro: O imaginarium geographica. Mal eles imaginavam que isso os colocaria em perigo e em pouco tempo já estariam fugindo de criaturas assustadoras e refugiando-se em um barco especial: O Dragão Índigo.
Este navio é capaz de atravessar os mares que separam o mundo normal do arquipélago dos sonhos, um lugar habitado por lendas e criaturas do imaginário.
Elfos, anões, texugos falantes, lendas arturianas e mitologia grega vivem em paralelo neste universo.
Assim, eles embarcam numa aventura para salvar este mundo, ameaçado por um homem maligno: O rei do inverno.

Este livro pode ser lido de duas maneiras:
1. PAra as pessoas que não tem muitos conhecimentos sobre mitologia e literatura fantástica: É uma aventura interessante, repleta por lutas e criaturas incríveis.
2. PAra os fãs de fantasia e mitologia: Essa é a verdadeira viagem pelo mundo criado por James Owen. Cada personagem citado traz lembranças boas ao leitor. Encontrar Nemo, criaturas mitológicas gregas, nórdicas e muito do universo de Senhor dos Anéis e Nárnia. Tanto que por um momento pensei que o autor exagerou nas referências até chegar no final.
Nas últimas páginas toda a magia acontece e descobrimos como poucas palavras são capazes de evocar emoções profundas.


Eu raramente dou a nota máxima para livros. Esta nota é reservada a obras que mexem profundamente comigo, como Memórias Póstumas de Bras Cubas, Senhor dos Anéis e Primeiras Estórias. Eu encontrei isto neste livro.

A única coisa que me incomodou foi uma tradução: usaram o termo mano-a-mano para corpo-a-corpo. Acho que esse termo não combina muito para batalhas épicas de espada.


Recomendo muito este livro!